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sábado, 12 de setembro de 2009

COISAS DO PAPEL

Sempre tive o hábito de guardar coisas, principalmente as que faziam parte do meu meio e que tinham de alguma forma me marcado.
Sem intenção, depois de muitos anos descobri que aqueles montes de papéis, adesivos e cartazes de movimentos sociais e campanhas das mais diversas, que eu amontoava em gavetas e caixas (enquanto minha mãe me mandava sumir com aquilo de casa), para o ofício do historiador, é conceituado como “fonte”, não a da praça, toda ilumina nas noites calorosas do interior, mas histórica, para pesquisas e estudos dos quais os temas tratados nos papéis possam vir a ser objetos de alguma pesquisa por alguém, e por fim acabei eu mesmo utilizando deles em alguns estudos que dentro das possibilidades realizei e ainda tento melhorar com olhares diferentes.
Mas o que me intrigou nesses últimos dias é que olhando alguns dos cartazes, na tentativa de organizá-los, além de recordar da fonte luminosa que existia na cidade em que minha avó e meu avô (um escrito com grampinho e o outro com chapeuzinho), moravam e do dia em que empurrei um menino que não me lembro o nome dentro dela, percebi que traziam uma discussão esquecida atualmente por muitos setores de atuação dos movimentos sociais, pelo menos na minha concepção.
Esse debate, por fim, é do internacionalismo das ações como combate a ação global do capital, lembro-me que se discutia muito “se o capital explora de forma global, a luta do povo pela sua libertação também tem de ser global”. Mas ainda nem é isso que quero realmente discutir nesse texto, apesar desse debate de esquerda, internacionalismo e etc.; só não ser brega porque brega é uma palavra brega, o que percebo quando acompanho um pouco dos discursos dos movimentos sociais é que se tem burocratizado a luta, e as estratégias do discurso perdido o sentido das demandas reais, me parece que até o mais convicto da auto-gestão, praticante da luta direta está preocupado com a “moda jovem” do discurso e com o que as outras pessoas vão pensar de discursos que falam de mudanças reais. (Muito tempo atrás eu estava discutindo com um amigo, e ele me disse: “Daqui a alguns anos, a maior das manifestações populares de questionamento as injustiças sociais, será um oficio, assinado por quatro ou cinco pessoas sem representação nenhuma").
O que isso tem a ver então com os cartazes, a fonte luminosa e moda jovem? Bem, com a fonte e com a moda jovem nada, mas com os cartazes, eles são os indicativos de parte da negação dos discursos atuais, num momento em que os movimentos da esquerda aparentemente buscam uma via mais fidedigna ao seu pensamento, se reorganizam, existe uma negação dele próprio, na racionalização do fazer política, no seu sentido de movimento. “Pixar” o muro da cidade como ação reivindicando algo, é proibido, condenação moral na certa, já que os caracteres apresados vão poluir o ambiente visual, o spray vai ser condenado pelos movimentos de defesa ambiental, e o pior, “pixação” não é arte nem cultura, colar cartazes com “lambe-lambe” então, pior, além do papel ter como principio a celulose da árvore, é proibido, e tem o aquele negócio do twister também, maior movimento Fora Sarney do país que mobiliza muito mais.
Mudando... Figura pública então, apoiar movimentos de ocupação, pior ainda, veja o que ocorreu com o Aldo de São Bernardo do Campo a anos atrás, perdeu o mandato porque apoiou um movimento legitimo de ocupação. Mas não, depois que a população incorporou o discurso da “Democracia Agrícola” e se convenceu de que a terra pode ficar esperando sem produzir o melhor momento para a especulação, proibiram-se mandatos ficarem “caçando confusão”, Lênin, coitado, já deve ter virado pó é de tanto se bater no caixão, vendo o dia em que os movimentos e partidos deixaram de ser o caminho da liderança do povo rumo a “(des)alienação” e o fim da exploração do homem sobre o homem e passou a ser dirigido pela alienação do povo convencido pela direita! É, é o fim da paciência.
Mas o que tem isso haver então com os cartazes? Bem, acho que nada também, pelo menos de interessante, só me lembrei de quando assisti “Terra e Liberdade” em VHS, num vídeo cassete emprestado e consegui um cartaz, com um amigo, o guardei até hoje, e também um cartaz do FZLN, braço do EZLN dizendo o esquecido “el mundo que queremos es uno donde quepan muchos mundos”, e que estamos criando muitos mundos onde não cabe nenhum... Coisa de doido mesmo.

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